25/09/2008

AS DUAS FLORES


Imagem e poema do fotolog do meu amigo Zé Carlos


AS DUAS FLORES

São duas flores unidas,
São duas rosas nascidas
Talvez no mesmo arrebol,
.
Vivendo no mesmo galho,
Da mesma gota de orvalho,
Do mesmo raio de sol.
Unidas, bem como as penas
Das duas asas pequenas
De um passarinho do céu...
.
Como um casal de rolinhas,
Como a tribo de andorinhas
Da tarde no frouxo véu.
Unidas, bem como os prantos,
Que em parelha descem tantos
Das profundezas do olhar...
.
Como o suspiro e o desgosto,
Como as covinhas do rosto,
Como as estrelas do mar.
Unidas... Ai quem pudera
Numa eterna primavera
Viver, qual vive esta flor.
.
Juntar as rosas da vida
Na rama verde e florida,
Na verde rama do amor

Castro Alves

À você Zé Carlos, com muito carinho.

.

19/09/2008

Até Quando?


Acordo
num tenho trabalho,
procuro trabalho,
quero trabalhar

O cara me pede diploma,
num tenho diploma,
num pude estudar

E querem
que eu seja educado,
que eu ande arrumado
que eu saiba falar

Aquilo
que o mundo me pede
não é o que o mundo
me dá

Consigo emprego,
começo o emprego,
me mato de tanto ralar

Acordo bem cedo,
não tenho sossego
nem tempo pra raciocinar

Não peço arrego
mas na hora que chego
só fico no mesmo lugar

Brinquedo
que o filho me pede
num tenho dinheiro pra dar



Trecho da música "Até quando?"
de Gabriel - O pensador

16/09/2008

* VINICIUSs *



Desde a época da adolescência eu sou literalmente apaixonada pelo "poetinha".
Romântica assumida, como não apaixonaria-me por ele, que além de ter sido um dos maiores compositores do Brasil, foi também um estupendo poeta.
Fez sonetos maravilhosos e belíssimas canções. Tanto era essa minha "paixão" que dei a meu primeiro filho o nome de Vinícius.
Sabe-se que Vinicius de Morais era um boemio, e era também conhecido por ser um grande conquistador. O poetinha casou-se por nove vezes ao longo de sua vida.
No campo musical, teve como principais parceiros
Tom Jobim, Toquinho, Baden Powell e Carlos Lyra.
Meus sonetos preferidos são: Soneto de Fidelidade e Soneto da Separação.
Soneto da fidelidade porque sempre imaginei pra mim um amor como o descrito no poema, com tanto bem querer e amizade, e a fidelidade, que eu acho fundamental em uma relação.
Soneto da separação porque marcou uma fase muito triste da minha vida, que foi a minha separação. Uma separação sofrida, daquelas que a gente sabe que é inevitável, mas ainda com muito amor preso no coração...Separação destas que a gente tem que afogar o amor aos pouquinhos...
Deixo aqui estes dois sonetos e mais alguns, para que possam apreciá-lo, e quem sabe, assim como eu, apaixonarem-se.

Soneto de Fidelidade
De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Soneto de separação
De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.

Soneto à Lua
Por que tens, por que tens olhos escuros
E mãos lânguidas, loucas e sem fim
Quem és, que és tu, não eu, e estás em mim
Impuro, como o bem que está nos puros?

Que paixão fez-te os lábios tão maduros
Num rosto como o teu criança assim
Quem te criou tão boa para o ruim
E tão fatal para os meus versos duros?

Fugaz, com que direito tens-me presa
A alma que por ti soluça nua
E não és Tatiana e nem Teresa:

E és tão pouco a mulher que anda na rua
Vagabunda, patética, indefesa
Ó minha branca e pequenina lua!

Soneto de devoção
Essa mulher que se arremessa, fria
E lúbrica aos meus braços, e nos seios
Me arrebata e me beija e balbucia
Versos, votos de amor e nomes feios.

Essa mulher, flor de melancolia
Que se ri dos meus pálidos receios
A única entre todas a quem dei
Os carinhos que nunca a outra daria.

Essa mulher que a cada amor proclama
A miséria e a grandeza de quem ama
E guarda a marca dos meus dentes nela.

Essa mulher é um mundo! — uma cadela
Talvez... — mas na moldura de uma cama
Nunca mulher nenhuma foi tão bela!

Soneto do Amor Total
Amo-te tanto, meu amor ... não cante
O humano coração com mais verdade ...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.

Amo-te afim, de um calmo amor prestante
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.
E de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude



Menina que passa
versão original da música
"Garota de Ipanema"

Vinha cansado de tudo
De tantos caminhos
Tão sem poesia
Tão sem passarinhos
Com medo da vida
Com medo de amar

Quando na tarde vazia
Tão linda no espaço
Eu vi a menina
Que vinha num passo
Cheio de balanço
Caminho do mar

13/09/2008

O ANALFABETO POLÍTICO

O ANALFABETO POLÍTICO
O pior analfabeto
É o analfabeto político,
Ele não ouve, não fala,
Nem participa dos acontecimentos
políticos.
Ele não sabe o custo da vida,
O preço do feijão, do peixe, da farinha,
Do aluguel, do sapato e do remédio
Dependem das decisões políticas.

O analfabeto político
É tão burro que se orgulha
E estufa o peito dizendo
Que odeia a política.

Não sabe o imbecil que,
da sua ignorância política
Nasce a prostituta, o menor abandonado,
E o pior de todos os bandidos,
Que é o político vigarista,
Pilantra, corrupto e lacaio
Das empresas nacionais e
multinacionais.
Bertold Brecht

11/09/2008

A história de Liz




A história de Liz

Liz nasceu no ano de 1979, numa cidadezinha do interior de SP chamada Avaré (aproximadamente 250 km). Seu lar era uma casinha humilde na colônia de uma fazenda. Seu pai nesta época era empregado rural.
Mas não se demoraram muito por ali. Aliás, nunca se demoravam em lugar nenhum mesmo...Viviam mudando de sítio em sítio, de fazenda em fazenda. Até me lembro de alguns nomes: Fazenda Santa Rita de Cássia (Liz fez a primeira série numa escolinha da zona rural da cidade de Cerqueira César, de uma única sala com 1ª, 2ª e 3ª séries), Fazenda Caracol (Manduri), Fazendinha (Cerqueira César), mais vários outros lugares que não me recordo o nome de cabeça. Seu pai trabalhava sempre como peão, lavrador, retireiro, caseiro, etc...
Quando Liz completou 9 anos de idade acabaram-se as peregrinações e a família se estabeleceu num povoado chamado Barra Grande. Lugarzinho feio, com duas ruas horizontais e três verticais. Ali permaneceram, e ali se encontra até hoje parte da família.
Sua infância foi um tanto triste... É claro que tinha momentos felizes, mas muitos momentos tristes. Apesar de nunca ter faltado o alimento em sua casa, Liz era triste. Seu pai era alcoólatra, e isso causava um grande sofrimento à sua família.
Por diversas vezes quando o pai estava bêbado, à noite quando os irmãozinhos dormiam, Liz ouvia os gemidos de sua mãe a apanhar (apesar de se esforçar ao máximo para não fazer barulho).
Certa noite, quando tinha sete pra oito anos, avistou atrás do guarda roupa uma garrafa de cachaça...Na mesma hora correu em direção de sua mãe e disse-lhe:
_ Mãe, tem uma garrafa de cachaça escondida atrás do guarda-roupa.
A mãe então correu e pegou a garrafa...Neste momento chegou o pai...
_ Zé, você tinha me prometido que tinha parado de beber, você jurou...Eu vou jogar esta porcaria fora.
Mas o pai pegou dela a garrafa dizendo e sorrindo (sorriso de quem mente, pois existem pessoas que se entregam facilmente quando sorriem):
_ Esta cachaça não é minha, é do Jorge (o vizinho que morava na chácara ao lado).
E tomando a garrafa das mãos da esposa, levou-a consigo.
A noite que se seguiu foi uma das piores noites da vida de Liz. Por volta das 7 horas da noite chegou o Sr Jorge (que não era o dono da bebida), e sentou, pondo-se a conversar com o Sr. Zé. Ele estava lá porque haviam matado porcos neste dia, e ele vinha pra ajudar e aproveitar pra ficar de papo comendo aperitivos.
Então os dois senhores puseram-se a comer e a beber a (maldita) cachaça. A bebida fazia com que o Sr. Zé perdesse completamente o sentido das coisas...Ele começava a ver coisas e a ficar violento e, neste dia, não foi diferente. Começou a brigar com todos, a quebrar tudo dentro de casa e a dizer que ia matar a família. Era sempre assim. A atitude se repetia a cada “porre”. Mas neste dia foi pior, pois não tinha dado tempo de esconderem as facas da casa. Então o Pai de Liz bêbado e se dizendo possuído, pegou a faca dizendo que acabaria com a vida de sua família. O Sr Jorge, apesar de estar alto pelo consumo do álcool, era controlado. Segurando o Sr. Zé, disse para que a mãe de Liz fugisse com os filhos.
Mas como fugir com os três filhos à noite, de um sítio, no meio do nada, e com uma chuva terrível a cair...
E lá se foram a mãe, Liz e o irmão caçula, a correr pela chuva por entre o canavial. Tomando chuva, o medo a aterrorizar-lhes e as formigas a morderem-lhes o corpo, quando paravam pra descansar. Essa caminhada durou muito tempo, pois paravam a todo momento preocupados com o filho do meio que havia ficado dormindo num dos quartos, trancado a chaves. A mãe não sabia se prosseguia em busca de ajuda ou se voltava e buscava o filho. Mas como ela poderia carregar um filho de seis anos que estava dormindo, enquanto ela tinha que carregar o menorzinho de três.
Foram parar no sitio vizinho, na casa de Jorge (sua esposa havia ficado em casa), e lá ficaram. Por sorte pediu ajuda a um outro morador deste mesmo sítio, o qual foi prontamente resolver a situação.
O bendito vizinho do Sr. Jorge foi até a casa de Liz, e trouxe consigo o irmãozinho do meio, ainda dormindo feito um anjinho. Sr. Jorge houvera conseguido segurar o Sr José até que sua loucura houvesse cessado por completo.
No outro dia, quando a família voltou pra casa, encontraram muitas coisas quebradas, mas o Sr José não estava por lá. Estava trabalhando.
E foi assim que, quando o Sr José voltou pra casa, agindo como se nada tivesse acontecido, a família superou mais uma vez o acontecido, e a esposa desculpando o marido, que jurava que nunca mais voltaria a beber.
Ele sempre dizia: _ Quero que um raio me caia sobre a cabeça se mais uma vez na vida colocar uma gota de álcool na boca.
Mas, não foi bem isso que aconteceu, e assim, após esse triste episódio, muitos outros se sucederam.

A história continua (talvez)...

Se quiserem, podem trocar o z por a.
.

03/09/2008

* Sonhar *


Sonhar
é por um momento
navegar o pensamento
nas ondas sonoras da
imaginação



Sonhar
é transpor-se ao inacessível
apalpar o invisível
aplainar o caminho,
fulminar a
solidão


Sonhar
é voar rumo ao espaço sideral
viver um mundo irreal
composto de pura
ilusão


Sonhar
é atirar-se nas aventuras
romper normas e estruturas
e submeter-se aos desígnios do
coração.



" O sonho é tão íntimo que ninguém é capaz de destruí-lo "

Autor : Antonio Dirceu Borelli